Leituras gastronômicas #3
Resistência culinária
por Breno Raigorodsky
O que um livro escrito em italiano, que acaba de sair na Itália, pode ser tão urgente para quem se interessa pela gastronomia no Brasil? Tudo, se o leitor está engajado na luta pela recolha da cultura gastronômica que se esvai a cada velhinha que morre nos canfundós de Goiás, em Ourinhos ou Tietê, levando para o túmulo aquela receita única, daquela mistura cujo gosto você nunca mais vai experimentar.
Tudo, se o leitor é daqueles que precisam de exemplo para transformar sua passividade perante a mesmice da comida pasteurizada em ação enérgica a favor dos produtores e a favor de quem vê comida como cultura.
O herói do livro -- condecorado até pela revista americana Time, que lhe deu o título de um dos Heróis Europeus de 2004 -- é Carlo Petrini, fundador e presidente do movimento Slow Food, órgão aglutinador nascido em 1989 e que não pára de crescer e aprofundar sua resistência, redescobrindo todos os passos que levaram a humanidade à atual Geléia Geral.
Num papo descontraído, Petrini conta para seu colega Gigi Padovani, jornalista e crítico gastronômico do jornal "La Stampa", como a coisa foi crescendo, quais as suas principais influências e reflexões. Conta como o caldo cultural-gastronômico foi engrossando desde os primórdios daquele grupo -- que vai por de pé a primeira liga, a Arcigola, em 1986 (três anos depois, em Paris, a liga muda de nome para Slow Food) --, até o recentíssimo encontro de Turim, em fins de outubro de 2004, conhecido pelo nome de Terra Madre. É uma conversa que localiza os mentores do movimento, como o decano Luigi Veronelli, escritor e editor da revista italiana "Gastronomo" e que, na década de 50, forjou a imagem do gastrônomo moderno, e os apoiadores de rota, como o teatrólogo italiano Dario Fó.
Não perca o prefácio. Ele está a cargo de uma das principais figuras dos princípios ecológicos modernos aplicados à produção alimentar, a indiana Vandana Shiva. Ela é conhecidíssima a partir da luta inédita pela conquista dos direitos autorais sobre o arroz basmati, usurpado pela gigante americana Rice Tec, que se arvorou a aparecer no mercado pretendendo ter descoberto um novo tipo de grão, que pede um novo preparo, quando nada mais fez a não ser copiar a fórmula do Vale do Doon, na Índia.
Graças a gente como eles, a comida está sendo levada mais a sério no mundo inteiro.
por Breno Raigorodsky
O que um livro escrito em italiano, que acaba de sair na Itália, pode ser tão urgente para quem se interessa pela gastronomia no Brasil? Tudo, se o leitor está engajado na luta pela recolha da cultura gastronômica que se esvai a cada velhinha que morre nos canfundós de Goiás, em Ourinhos ou Tietê, levando para o túmulo aquela receita única, daquela mistura cujo gosto você nunca mais vai experimentar.
Tudo, se o leitor é daqueles que precisam de exemplo para transformar sua passividade perante a mesmice da comida pasteurizada em ação enérgica a favor dos produtores e a favor de quem vê comida como cultura.
O herói do livro -- condecorado até pela revista americana Time, que lhe deu o título de um dos Heróis Europeus de 2004 -- é Carlo Petrini, fundador e presidente do movimento Slow Food, órgão aglutinador nascido em 1989 e que não pára de crescer e aprofundar sua resistência, redescobrindo todos os passos que levaram a humanidade à atual Geléia Geral.
Num papo descontraído, Petrini conta para seu colega Gigi Padovani, jornalista e crítico gastronômico do jornal "La Stampa", como a coisa foi crescendo, quais as suas principais influências e reflexões. Conta como o caldo cultural-gastronômico foi engrossando desde os primórdios daquele grupo -- que vai por de pé a primeira liga, a Arcigola, em 1986 (três anos depois, em Paris, a liga muda de nome para Slow Food) --, até o recentíssimo encontro de Turim, em fins de outubro de 2004, conhecido pelo nome de Terra Madre. É uma conversa que localiza os mentores do movimento, como o decano Luigi Veronelli, escritor e editor da revista italiana "Gastronomo" e que, na década de 50, forjou a imagem do gastrônomo moderno, e os apoiadores de rota, como o teatrólogo italiano Dario Fó.
Não perca o prefácio. Ele está a cargo de uma das principais figuras dos princípios ecológicos modernos aplicados à produção alimentar, a indiana Vandana Shiva. Ela é conhecidíssima a partir da luta inédita pela conquista dos direitos autorais sobre o arroz basmati, usurpado pela gigante americana Rice Tec, que se arvorou a aparecer no mercado pretendendo ter descoberto um novo tipo de grão, que pede um novo preparo, quando nada mais fez a não ser copiar a fórmula do Vale do Doon, na Índia.
Graças a gente como eles, a comida está sendo levada mais a sério no mundo inteiro.
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